11.4.06

Sinal

De pé
Parado
Pele grossa soldada no chão
Paredes
Pessoas
Olhos fixos atravessam o muro

Travessias
Travessuras
Transtornos

O mendigo não quer se finar nem consegue existir
Apenas espera o sinal abrir

Das barbas nasce um cigarro
Fumaça defuma solidão
Pulmão some acaba
Suicídio homeopático

Não gosta de bicho não gosta de chuva não gosta
Carro
Faz barulho
Não gosta do dia
Da noite não gosta
Gente
Detesta

O mendigo não pode chorar nem sabe sorrir
Apenas espera o sinal abrir

Em pé
Imóvel
Mãos estendidas pro céu
Cuspes
Moedas
Cabeça afundada nos ombros

Pés enfaixados
Cheio de trapos
Se apóia onde dói menos
Mal cheiro
Putrefação
Afasta as pessoas em volta

O mendigo não se faz isolar nem tenta se unir
Apenas espera o sinal abrir

Um camaleão
Cinza como asfalto
Humanidade no fim
Azul de fome
Molhado no breu
Cor de areia
Em dia de sol
Verde-esperança
No fim da humanidade
Um cidadão

Alma
Vida
Carma
Sorte
Calma
Sina
Arma
Morte

O mendigo não tenta falar nem se faz ouvir
Apenas espera o sinal abrir

Tempo passou
No último suspiro
Mendigo falou ouviu sorriu chorou uniu.
Se isolou,
Existiu.
Enfim, finou.
E o sinal abriu.