29.10.06

Contrastes

Em busca de luz, me arrasto pela escuridão. Por entre o vale da carne, iluminado apenas da penumbra de mercúrio que assola o asfalto, vago, de bar em beco, de vampiro em vampira, mantendo contato visual com quaisquer transeuntes que cruzem meu caminho dentre as trevas. Degusto este universo. Embriagado, sempre. Há sempre uma alma carente para se confortar em meus braços, para acomodar meu sexo. Às vezes tremo. São calafrios que vêm de algum outro lugar que desconheço. Espere. Talvez eu conheça este lugar, talvez tenha apenas me esquecido. Espere. Agora eu me lembro. Lembro-me da luz, branca. Era um único feixe de energia que rompia todas as barreiras que, agora, no escuro, me parecem tão nítidas. O raio onipresente e constante transcendia a matéria, e tudo levitava, contrariando a gravidade, como num sonho. Espere. Era um sonho. Não, não. Isso foi antes de eu ser cuspido daquele buraco quente e úmido para esse mundo frio e agitado. Foi antes ainda de eu ser cuspido do saco do meu pai. Está tudo embaralhado na minha cabeça. Droga, onde eu deixei a garrafa de vinho?