25.6.12

Diretamente de um passado remoto

Acendo um pra tentar me acalmar, mas a verdade é que eu já nem sei mais porque estou nervoso. Parece que este se tornou meu estado de espírito constante, embora eu passe a maior parte do tempo tentado representar o papel de alguém que está amarradão com a própria vida. Boto um Bob Marley pra ver se ajuda, mas o messias só me alerta para a falta de sentido que há no caminho por onde venho seguindo: a corrida dos ratos loucos. Como se eu estivesse numa gaiola, vivendo a vida de uma outra pessoa. É uma sensação escrota, acredite. Você deve saber do que eu estou falando…


Não há nada de errado em gostar de correr riscos - é saudável, caso você não seja um suicida. O problema é que eu corro os riscos errados. Como agora, por exemplo. Estou escrevendo, fumando e dirigindo - ao mesmo tempo - numa cidade que tem um dos trânsitos mais perigosos do mundo. Enquanto, na verdade, eu não deveria nem estar nessa cidade. E a pergunta que sai da mente é: onde eu deveria estar?


Momento sublime. Fumaça. Clima tropical.


Penso que eu deveria estar em Bali, escrevendo uma de minhas obra-primas imaginárias. Não precisaria de mais do que um kitinete perto do mar e um lap top para ser eu mesmo em minha melhor performance. Ondas, das mais mágicas… Mas não. Cá estou, dentro de um túnel mórbido, tentando ignorar a sinfonia desordenada das buzinas dos motoboys que passam varados pela minha janela. 


Talvez eu seja mesmo amaldiçoado, como reza a lenda dos sanpaku. O papo vem de um japa metido à muita merda; sanpaku é como ele chama as pessoas que tem "três partes brancas do olhos visíveis", seja uma das partes sobre ou sob a íris. Ele fala que o certo é só aparecerem dois brancos, um em cada lateral da íris. E que aqueles em que isso não ocorre - os sanpaku, como é o meu caso -, seriam pessoas amaldiçoadas: "O sanpaku perdeu o contato consigo mesmo, com seu corpo e com as forças naturais do universo. Os sintomas do sanpaku podem ser reconhecidos como fadiga crônica, baixa vitalidade sexual, reflexos ruins, mau humor, incapacidade de dormir bem e falta de precisão nos pensamentos e ações." Palmas pro japa! Tirando a parte da baixa vitalidade sexual e do 'leve' mau humor, ele até que se saiu bem. Talvez eu até tentasse me curar, caso o tratamento recomendado não fosse comida macrobiótica e exercícios diários para os olhos. Foi mal Miagui, nada contra; mas eu me amarro num churras e eu estou meio sem tempo pra fazer caretas em frente ao espelho.


Devido à falta de opções, me resta mesmo é deixar esses garranchos anotados num caderno que provavelmente ninguém nunca lerá. Talvez esse seja o meu destino. Ah, esqueci de mencionar o que o japa diz sobre o destino dos sanpakucostumam morrer ced, pois são incapazes de prever o perigo - eu li em algum lugar que ele chegou a prever as mortes trágicas de Marilyn Monroe, do Michael Jackson, do Keneddy e de sei lá mais quem. Heath Leather e Kurt Cobain também, eu acho. Enfim, espero que esse papo de maldição seja pura groselha. Prefiro acreditar que escrever chapado sobre o volante me mantenha mais vivo do que morto. Pelo menos faz com que eu me sinta mais calmo.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ainda leio.

6:01 PM  
Anonymous Rayssa said...

Estou apaixonada

10:59 PM  

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