12.10.13

Especial: Dia das Crianças

-->
-->
O menino tatuado no meu ombro direito que só eu vejo tem cabelos compridos e está de costas, hipnotizado pelo sol vermelho que ergue-se por trás do horizonte. Um surfista desliza sobre ondas psicodélicas imensas, num transe igualmente profundo. Ele está no auge. As ondas se espalham e desembocam debaixo das silhuetas dos pés do menino, que caminha em meio a cores vivas, claras e escuras, quentes e frias. Elas derretem-se umas nas outras, numa fusão de contrastes. E ele segue no meio delas feliz, contemplativo, confiante. Tem uma longa jornada pela frente e ainda não traz em seu andar nenhum sinal de desgaste.

Lá no fundo, há uma pequena ilha. Como num clichê, um coqueiro o espera, com as folhas ricocheteando ao vento. E num barquinho próximo dali, um velho pesca com a sua vara. Essa tatuagem invisível que eu tenho queima a minha pele e traz calor para dentro do peito. Esse sol de inverno, que desperta a cada verão.

As praias que visito nas férias me visitam a cabeça durante o ano todo, e o que me mata é a sensação do outono chegando, madrugada após madrugada. Eu atravesso as temporadas seguindo na cola deste menino tatuado. Talvez ele tenha quatro anos, talvez tenha nove. Perco-o de vista demasiadas vezes, e chego mesmo a esquecer do seu sorriso – como ele brilha e seduz. E depois eu choro por tê-lo abandonado, e só isso já faz com que eu volte a me sentir vivo. Este choro é também um uivo, um chamado da natureza. Minha alma grita e ao mesmo tempo ouve o próprio grito. Silencia. Fica perdida por mais alguns instantes, até que o tal menino surge novamente pra tomar conta do seu corpo endurecido. 
 
Como um espírito que me incorpora, esse menino nada no mar. Como um espírito de luz, esse menino se apaixona por cada visão, por cada gosto, por cada som, por cada cheiro... Ele tem sede de vida, por isso toca o mundo. Esse menino tatuado no meu ombro direito que só eu vejo é mais importante pra mim agora do que qualquer outra imagem. E é ele quem eu devo continuar seguindo.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Todo menino é um rei, eu também já fui rei...mas quá despertei.

Por cima do mar (da ilusão)
Eu naveguei (só em vão)
Não encontrei
O amor que eu eu sonhei
Nos meus tempos de menino
Porém menino sonha de mais
Menino sonha com coisas
Que a gente cresce e não vê jamais

ou só a gente pode ver!

8:38 PM  
Anonymous Moni said...

mt bom. vejo que o menino tá voltando a escrever!! adorei! de verdade!


4:26 PM  

Postar um comentário

<< Home