7.11.08

Rabiscos borrados que encontrei num antigo guardanapo

No verso estava escrito:

"LABORATÓRIO é coisa de rato.
Eu sou um gato,
no pleno sentido da palavra.
O que me mata é o que está atrás da curva,
E não na queda, quando venho do alto."

Não entendi nada. Ao lado, tinha uns desenhos meio mal feitos: um rosto que parecia ser o de Bukowski, uma gostosa com os peitos de fora e um monstro travado de pó. Ok. Virei a página e comecei a ler, com dificuldade, as palavras miúdas...
"Todos falavam asneiras, enlouquecidamente. Asneiras respeitáveis - pelo menos pra eles, que pareciam respeitá-las. Mas aí um pernilongo roubou minha atenção. Ele era grande e lerdo, e cambaleava sobre o vento provocado pelo ventilador de teto. Tentei pegar o filho da puta várias vezes, mas ele tinha o poder sobrenatural de desaparecer e reaparecer em outro lugar totalmente diferente. O escroto se teletransportava, cansei dele. Já havia desenhado em uma das faces do guardanapo, até escrito um poema meio sem sentido - pelo simples hábito de brincar com as palavras -, e tentado flertar com as barangas da mesa ao lado. Simplesmente passei meia-hora da minha vida tentando chamar a atenção delas, estando imóvel e em silêncio, mas por algum motivo não funcionou. Elas me ignoravam impiedosamente, conseguiam ser mais escrotas que os asnos da minha mesa e o mosquito mutante. Então resolvi dar mais atenção à minha cerveja, parecia minha mais fiel companheira da noite - por mais que eu matasse os copos num gole, as garrafas não acabavam nunca. As bolinhas subiam do fundo à superfície em menos de dois segundos, parecendo asteróides no infinito do espaço sideral. Elas subiam incessantemente, transportando-me para outra dimensão de tempo e lugar. Tudo estava indo bem nas galáxias amarelas, até que o pernilongo dos infernos resolveu me picar. Não sou do tipo que simpatiza com inseetos, mas simpatizei com o puto, confesso. E ele me traiu impiedosamente. Meu único companheiro além das bolinhas, meu camaradinha de asas... tudo bem. A baranga do lado esquerdo me olhou de rabo de olho, comentou alguma coisa com a amiga e depois me fixarou o olhar. "Opa! Talvez eu ainda foda hoje, afinal." Levantei para ir ao banheiro e cruzei com ela, que, nervosa, desviou o olhar e fingiu que não me viu. Enquanto mijava, pensei no que poderia dizer a ela. Nada veio à mente, alguém deu três socos na porta e eu tive que sair. Estava cruzando o balcão quando... merda, acabou o guardanapo!"
Até hoje não sei que fim teve aquela noite.