7.12.13

Ócio para quem precisa


Ele acordou às 14:22, levantou-se ainda tonto da bebedeira da noite anterior e desceu as escadas apoiando-se na parede. Bateu com a testa no vão do teto e resmungou o “ai, caralho” de sempre. Ouviu um forte respirar de porco do mato - o cara que morava na mesma casa que ele. O porco do mato corria todo suado pelo meio da sala, bufando e salivando feito um porco do mato. Sem dizer uma palavra, Ele cruzou até a cozinha e botou a água pra ferver. Pôs pó de café no filtro. Jogou uma fatia de queijo minas e umas raspas de banana no meio de duas fatias de pão integral e botou toda a gororoba na sanduicheira. Tudo parecia absolutamente normal.

O porco do mato fazia agachamentos, depois ia para um lado, fazia barras, depois andava para o outro, fazia flexões, depois se deitava e fazia abdominais. Parecia apressado, mas não era pressa. Era um “treinamento de sobrevivência”, assim o porco do mato chamava seus exercícios. Ele esperava, ao mesmo tempo em que observava tudo através da fumaça. De repente, a luz vermelha da sanduicheira ficou verde e Ele voltou a se concentrar em sua própria sobrevivência. Enquanto o pão com queijo e banana esfriava, desligava o fogo e passava o café. Enquanto o café passava, começava a comer seu pão com queijo e banana. E quando estava finalmente degustando o primeiro gole do seu café, o porco do mato resmungou, ofegante:

- Acordei cedo...
Ele mastigava aquele queijo fervido.
- Estudei...
Ele dava outro gole do café.
- Agora to malhando...
Ele olhava pro porco esperando a pérola.
- E ontem à noite não comi ninguém.

Os dois começaram a rir, cúmplices. Ele também não tinha comido ninguém, mas pelo menos ganhara um boquete excelente de uma linda morena de olhos verdes - e sem precisar acordar cedo, estudar ou malhar pra isso. Por isso, ria. O porco do mato também ria, pois imaginava o que Ele estava pensando.

Ele lembrou daquela velha música do Raul: “A formiga só trabalha porque não sabe cantar”, ligou o som no máximo e pôs-se a cantarolar. Era apenas mais um sábado nublado começando, na cidade do Rio de Janeiro.