7.12.13

Requiem de Exílio

I
De rolé por Viena
Viro a curva num chafariz que muda de cor
E minha alma se eleva.
Aqui, a cidade das trevas
De invernos tão frios,
Igrejas tão lindas,
E homens tão intensos como Mozart, Hitler e Freud.
Em seu infernos tão densos
Que compõem óperas e constroem palácios,
Mas não resolvem suas pequenas misérias.
Haja arte, religião e psicanálise para curar esses pobres seres.
Oh Senhor,
Traga eternidade para tantas vidas desperdiçadas
Que não fazem idéia de porquê que nasceram.
Traga redenção também para mim
Que sigo perdido no cambiar dos vagões.
II
No coro dos mortos,
Eu solo
Na alternância dos pólos,
Socorro
Com a beleza das obras,
Eu choro
E na incerteza de tudo,
Imploro
Que minha vida seja esplendida, Senhor,
Cheia de cor e de penumbra,
Nuances de humor e terror,
Que nunca me falte saúde, fartura,
Fama e sucesso.
Oh senhor, eu peço desesperadamente pelo amor
Que por falta de habilidade sempre deixo escapar
Por materialidade, egoísmo, incapacidade
Simplesmente não consigo amar.
III
Vou perdendo a pureza
Mas nunca a destreza,
Pois a minha natureza é barroca;
Se arrasta do profano ao sagrado.
Tenho a estúpida pretensão de variar entre estes dois pontos,
Embriagado sobre uma corda.
Sigo cavando minha cova
Pois quero viver no limite
Entre a sanidade e a loucura.
Persigo um duende arisco
Me empurro contra um abismo a cada vez que me arrisco
E me chicoteio na manha de domingo
E me vendo ao mercado central como qualquer outro mortal
Com medo de que o império me condene e me execute.
E quem me olha de longe me sente sereno
Pois meu coracao segue disparando flechas a esmo
Persigo o perigo e também o desejo
Pois no fim do dia
A sobrevivência traz satisfaçao por si só
E o gozo absolve o suor.
IV
Um grito ecoa dentro da floresta
Troveja atrás da catedral
A névoa invade a cidade
Sob uma lua cheia que convida
A morte para um piquenique.
No meio do bosque do parque municipal

A batalha começa
Entre o atleta e o bêbado
O vagabundo e o operário
O ator e o criador.
O louco olha para o gênio com desprezo
E o gênio dorme, entorpecido.
O louco se masturba até desmaiar
Enquanto o gênio cogita o suicídio.
Uma cavalaria embestada atropela o soldado
que fumava e freqüentava prostíbulos.
O dia amanhece banhado de sangue
E restos de gente implorando por misericórdia.
Oh Senhor,
Qual a raíz de tanta tormenta?
V
Os cavalos dormem
Os ratos comem
Os pássaros cantam
E o imperador caga em seu penico banhado a ouro
Homens permanecem presos em grades
Enquanto os deuses nao riem nem choram
Ja nao existem outono, inverno, primavera ou verão
Apenas o carrossel desvairado de fantasmas
Que sentem piedade de si mesmos.
Me faça grande, oh senhor!
Me faça gigante
Maior do que o meu próprio sonho.